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sábado, 29 de setembro de 2012

Agora sou progressista

Olimpo 1
Nós, progressistas, acreditamos que a mordaça é democrática.
Falar é livre, desde que eu queira ouvir o que você tem a dizer.
O livre arbítrio, antes de ser um princípio universal reconhecidos pelos governos mundanos, seria um direito divino dado a Adão e suas gerações. Nós, progressistas, acreditando sermos os porta-vozes de próprio Deus redivivo, seja na Rússia de ’17 ou na forma de um pigmeu garanhuense de São Bernardo do Campo dos anos 80, damos a nosso chefe supremo e seus 40 discípulos o poder de limitar o livre arbítrio ao seu ditame. Ele e apenas Ele tem direito a livre arbítrio.
Tudo pode se nós, “erenicicamente”, recebermos nossos 6%.
Bandidos são seus amigos, os nossos são injustiçados, perseguidos e massacrados.
Os maus vendem o que é de todos, os nossos fazem parcerias nas quais entramos com os bens públicos e nossos parceiros entram com o capital, aquela coisa que o Diabo criou para o deleite dos bandidos e para as necessidades dos nossos amigos.
Quem nos critica nos odeia, quer nos golpear de morte. Quem nos elogia está com livre acesso ao Olimpo do erário fácil. Quem critica nossos inimigos (não temos adversários ou opositores, mas inimigos e golpistas) também tem nossas benesses e simpatia. Quem elogia nossos detratores merece el paredón da justiça humana, uma vez que a divina é para os imbecis.
A história é formada de episódios em que os nossos são martirizados ou saem vencedores, o resto é mentira sob o disfarce de verdade e nesses provas, fotografias e depoimentos são forjados com o único propósito de nos agredir.
Se matamos nossos inimigos, nos justificamos com a defesa dos interesses dos menos favorecidos, pobres, minorias, discriminados. Se um deles mata um dos nossos numa luta que nós provocamos, é um crápula que merece as mais duras penas, mesmos que essas penas não estejam previstas nas leis.
Podemos até matar um dos nossos se este nos trair, trair “a causa” – mesmo que nossos comandados não tenham a mínima ideia de que causa seja essa – e nossos interesses, que são também os interesses do “povo”, este ser amorfo, homogêneo, mas que precisa das nossas diretrizes para andar, comer, vestir-se, amar, odiar, endeusar, endemonizar, falar, calar, enfim, viver. O “povo” é incapaz, o que o leva a depender de nossa capacidade, de nossa tutoria, da nossa orientação cotidiana, seja em caráter comunitário, seja no âmbito pessoal.
Somos nós que sabemos o que as famílias podem e devem fazer, o que as escolas devem ou não ensinar, que caminhos as empresas podem ou não trilhar para o sucesso, embora esta palavra só faz sentido quando o bem sucedido é um dos nossos. Um empresário bem sucedido é e será sempre um membro da elite golpista que nos odeia, por conseguinte, odeia o povo.
A ideologia alheia não é ideologia, senão roubo, atraso, conchavos, interesses escusos, maquinações assassinas. A nossa é clareza de ideias e de ideais e a adaptação do discurso à relatividade da verdade. O mundo há de aprender que ele está errado cada vez que discordar de nós. Nós somos o único caminho certo, a verdade e a luz.
Somos a única espécie que deve habitar o universo. Mesmo os EE.TT. são vermelhos. A mídia capitalista, opressora e mentirosa os pintou de verdes, a cor do dólar, como mensagem subliminar. O dólar é a arma do demônio capitalista (Deus não existe, mas o capeta verdadeiro é nosso aliado) para nos oprimir.
©Marcos Pontes












terça-feira, 4 de setembro de 2012

O bom, o mau e o tô nem aí

DUELO

No momento atual de polarização política, seja o que algumas figuras públicas falarem, sempre provocarão duas correntes excitadas, uma de aprovação inconteste e a oposta de apedrejamento. Pessoas autoaclamadas cultas e politizadas não escapam dessa armadilha.

Já que estamos falando em polarização, citemos os dois principais atores desses polos, FHC e Lula, apenas como ilustração.

Recentemente FHC escreveu um artigo em que defendia Dilma e sua necessidade de calma e “compreensão” para governar. A “compreensão” está grafada neste período por ser ela um dos artigos mais requisitados por todo governante que faz bobagens ou toma medidas impopulares.

A bem da verdade, todos os artigos político que FHC escreveu desde que saiu da presidência teve como mote a defesa de seus sucessores.

Quando estourou o escândalo do mensalão, o ex-presidente freou a ânsia de seus correligionários ao pedirem o impeachment de Lula. Não se preocupou se feria a condição de oposição dos tucanos, com a honestidade e probidade no trato da coisa pública, com os interesses eleitorais de seu partido e seus principais líderes Serra Aécio e Alckmin de verem Lula e PT alijados do poder, com o que pensariam seus ex-eleitores sobre sua posição condescendente. Como ex-ocupante do trono, escaldado com as baterias diárias de ataques e críticas que recebia logo depois de passada a lua-de-mel com a imprensa, os bancos e os eleitores, FHC preocupa-se mais em defender o presidente em exercício do que os interesses do país.

Mas a palavra de ordem é colocar-se contra ou a favor e os eleitores seguem à risca essa determinação. Para se opor a Dilma e PT tem que idolatrar FHC e os tucanos e vice-versa. Para ser dilmista (se é que existe algum), petista ou lulista, tem que espinafrar FHC, tucanos, dems ou qualquer sombra, por mais pálida que seja, de oposição.

Eleitores que assim posicionam-se também não fazem bem aos interesses públicos reais.

Não há deuses, mormente em política; salvadores da pátria, via de regra, são saqueadores do erário e estelionatários eleitorais. Vide os exemplos recentes de Collor, Sarney, ACM, Lula, Calheiros, se não FHC, seus colaboradores na elaboração do Plano Real que enriqueceram especulando com o dólar e com a bolsa de ações, armados com suas informações privilegiadas.

A generalização é tão ou mais burra que a unanimidade. Me permitirei, então, uma correção de rumo.

Há uma parte do eleitorado que não endeusa ou sataniza este ou aquele lado, Estes dividem-se em analistas que acham que estão pregando o equilíbrio e os que não se interessam, de fato, com o noticiário político. Estes últimos subdividem-se nos que leem jornais, porém se deixam convencer pelos “noticiosos” do botequim e tomam como verdade absoluta o que os amigos tidos como mais bem informados vaticinam e aqueles que deveras estão pouco se lixando para política.

Sem querer pregar a alienação, os últimos são os únicos confiáveis. Não se interessam mesmo por política ou políticos e são honestos nas suas posições de que o que desejam é teto, cama e comida na mesa. Pode até não ser honesta sua maneira de conseguir isso, mas o é a da neutralidade política declarada. Esses, para o bem o mal, são minoria.

Os que tomam bandeiras com números ou caras impressas, em seu sectarismo, negam-se em ver os erros, não poucos, cometidos pelos seus ídolos e os acertos, mesmo raros, de seus desafetos.

Como me posiciono nessa fauna? Como franco atirados. Porém, na polarização PX X PSDB, FHC X Lula, Competência X Dilma, vejo com clareza que vêm todos, com exceção da competência, do mesmo ninho, apenas de ovos diferentes.

 

©Marcos Pontes